Será que existirá um futuro para as profissões de Cartógrafo, Agrimensor, Geomensor e afins? Como vamos nos adaptar às rápidas e constantes mudanças que estão ocorrendo? Será que ainda temos como “subir na cadeia alimentar”?
Este conteúdo é baseado em um post no blog do professor José Maria Ciampagna, que por sua vez foi uma sugestão do Dr. Diego Erba – especialista em Cadastro – de leitura de um artigo de Robin Mc. Laren na revista GIM International.
Então, não é original, mas achei que valia a pena registrar isto em português, pois está muito relacionado com o que tenho escrito por aqui nos últimos dias e porque compartilho de algumas posições do autor.
O artigo original e a sua tradução ao espanhol falam somente de Surveyors / Agrimensores, mas me sinto confortável em estender também para os Cartógrafos, Tecnólogos em Geoprocessamento, Técnicos em Agrimensores, Geomensores, Geógrafos que trabalham com Geografia Física / Aplicada e afins.
Vamos lá:
O futuro dos Cartógrafos e Agrimensores: como vamos nos adaptar às constantes mudanças?
Robin McLaren descobriu recentemente que, tanto a profissão médica como a de arquitetura, se encontram em um dilema devido à aparição de sistemas de inteligência artificial como o Watson, da IBM, e também frente aos desafios dos mundos técnico e comercial em rápida e constante evolução.
Então, a pergunta que o autor faz é: “Como estamos posicionados em relação à profissão de Agrimensor?”
Em seu artigo, Robin explora como a profissão de Agrimensor / Cartógrafo / Geomensor pode ainda seguir sendo relevante, mesmo sob tanta pressão de outras profissões que estariam melhor preparadas.
Sobre o Watson, trata-se de um super-computador que combina Inteligência Artificial e software analítico para obter rendimento ótimo como uma “máquina de perguntas e respostas”, que já tem demonstrado seu valor no diagnóstico de pacientes, por exemplo.
Os médicos simplesmente não teriam tempo hábil – geralmente em torno de 15 anos – para adotar novos procedimentos com o Watson em seus calcanhares.
De forma semelhante, a profisssão de Arquitetura também encontra-se em um dilema. Para mim, o número é um pouco exagerado, mas segundo o autor do artigo, estima-se que 80% do mundo, hoje, esteja sendo construído sem arquitetos.
Segundo ele, parece que todas as profissões estão tendo que adaptar-se rapidamente aos desafios técnicos e comerciais em rápida evolução.
Em tempo: vale a pena dar uma olhada no site Will Robots Take My Job e pesquisar que profissões estão mais “ameaçadas de extinção” (o resultado para “Surveying and Mapping Technicians” é de impressionantes 96%).
E aí o sr. Mc Laren deixa estes questionamentos:
• Como a profissão de Agrimensor está se preparando para este desafio ?
• As profissões ligadas à Geomática continuarão sendo consideradas relevantes frente a outras mais atraentes?
• Será que os Topógrafos compreendem o impacto – em sua profissão – da revolução que está em curso no setor geoespacial?
Esta transformação digital inclui o crowdsourcing baseado em tecnologia móvel, a combinação de inteligência artificial e observação da Terra, os sistemas automatizados de localização e cartografia, o big data e a robótica, além do registros de terra sendo terceirizados ao setor privado.
De acordo com o autor, para as profissões ligadas à Geoinformação continuarem sendo relevantes, devemos educar nossos estudantes e continuar desenvolvendo a capacidade dos profissionais para que sejam tão criativos nos negócios como o são em coletar, gerenciar e analisar dados geoespaciais.
Hoje, o alcance limitado dos agrimensores se deve – ainda segundo o autor – em grande medida porque nos foi ensinado “O que pensar”, ao invés de “Como pensar” sobre o negócio geoespacial.
Para Mc Laren, a relevância de nossa profissão está conectada a estas 5 características críticas:
1 – Alcance: se ensinarmos aos jovens profissionais a serem tão criativos no setor geoespacial como o são em tecnologia da informação, se abrirão portas para fluxos de recursos provenientes de novas fontes, como por exemplo a propriedade intelectual e novos serviços, que possam expandir a influência do agrimensor na resolução de problemas.
2 – Eficácia: as soluções de nossos problemas globais só serão alcançadas mediante a colaboração com outras profissões. Desta forma, os cursos devem envolver o trabalho em equipes multidisciplinares para resolver problemas, ao invés de ficarmos isolados em “ilhas de geoprocessamento”.
3 – Conectividade: muitas vezes isolamos nossa profissão com discursos monótonos e/ou auto-complacentes. Em um mundo onde reinam as redes sociais e a desinformação, é fundamental transmitir nossa mensagem de forma clara e objetiva àqueles a quem tentamos influenciar, como os políticos e leigos.
4 – Adequação: nossas soluções parecem estar sobre-especificadas e são geralmente muito caras para os requisitos dos clientes. Precisamos escutar mais e de maneira mais efetiva as necessidades dos clientes, compreender melhor o contexto cultural e oferecer soluções aptas para o seu propósito.
5 – Resiliência: devemos levantar nossas cabeças, compreender o que está ocorrendo no mundo e nos adaptar rapidamente. Isto vai requerer que sejam mantidos nossos valores globais.
6 (bônus, por minha conta) – Sair da ZC: é essencial estarmos sempre prontos para sair da famigerada zona de conforto e pensar que, neste momento, um pequeno grupo pode estar em uma garagem no Vale do Silício desenvolvendo a próxima tecnologia que vai gerar a disrupção de um setor, e este setor pode ser o Geoespacial.
Finalizando, com as palavras do autor: “Para sobreviver, os Cartógrafos e Agrimensores deverão adotar uma mudança profunda, avançar na ‘cadeia alimentar’ de novos serviços ao agregar valor considerável e ser pró-ativos na criação de mercados inovadores. Do contrário, nos tornaremos irrelevantes e extintos”.
E você, concorda com o autor? Envie pra mim seus comentários que poderei traduzir e encaminhar tanto ao prof. Ciampagna como ao Robin Mc Laren (em tempo: recentemente fiz uma live sobre este assunto, que você pode assistir aqui).
PS: Para não trazer só “notícia ruim”, assim como comentei na live, a profissão considerada a “mais sexy da década” é a de cientista de dados. Ou seja, os dados agora viraram commodities, então é preciso saber o que fazer com esta imensa quantidade de informação que é gerada, continuamente. Em um futuro próximo, não vai ser tão importante o título – de qualquer forma, eu serei eternamente Engenheiro Cartógrafo – mas sim como estará a capacidade de cada um de se adaptar às mudanças do mercado. Bora que o futuro será fantástico…
Geoinformação & Disrupção: Criando Novos Mercados
Como a cadeia produtiva da Geoinformação pode se adaptar às rápidas e constantes mudanças que estão ocorrendo e também buscar novos mercados?
Toda esta evolução digital está baseada em tecnologia móvel, a combinação de inteligência artificial e a observação da Terra, serviços automatizados de localização, big data e análises geográficas em tempo real.
No seminário Geoinformação & Disrupção, que vai acontecer no dia 15 de maio na abertura do MundoGEO#Connect 2018, especialistas estarão reunidos para debater estas tendências e desvendar os melhores caminhos para as empresas do setor continuarem a prover soluções para uma cadeia consumidora corporativa da análise geográfica cada vez mais ampla e exigente.
Veja a programação completa e confira como foi a última edição, que contou com mais de 3 mil participantes:
Post publicado originalmente no Blog GeoDrops.